Opinião
La Charrete Fantôme
Por Rubens Amador
Jornalista
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A morte tem sido mote para alguns diretores e seus filmes. Na minha memória há um, impressionante. Já se vão lá algumas décadas que o vi; trata-se de uma película francesa e seu título era: La Charrette Fantôme (A Carroça Fantasma), com um dos imortais atores gauleses, Louis Jouvet. Filmado em preto e branco, era a história de uma carroça que vagava por estranhos cenários noturnos a ranger de forma sinistra, e tendo como boleeiro, a Morte! De tempos em tempos esta parava em determinada casa e levava seu dono. Era um convite que não podia ser rejeitado. E os diálogos entre boleeiro e convidado eram notáveis por suas temáticas filosóficas.
Pois, recentemente, vi num desses filmes não programados, e descubro outra joia, agora de Ingmar Bergman, o festejado diretor sueco, trata-se de "O sétimo selo", filmado em 1956. Película com uma ambientação muito parecida com La Charrete Fantôme, tendo como figura central também, como "mocinha", a Morte. É uma película não de terror, mas de serena exposição do fenômeno final entre os seres, que, vez por outra, são visitados por ela. Há um que se nega atender ao convite da Parca para que a acompanhe, e convida-a para uma partida de xadrez que geralmente demora (ele era exímio jogador). Ela aceita, e diz-lhe que vai dar um tempo para que ele aproveite bem a vida, mas que de vez em quando voltará para movimentar uma peça, e se esta vier fazê-la perder, então ele estará livre do convite! As sequências do encontro dos jogadores são antológicas. Num deles a Morte, assumindo um dos seus mil disfarces, dialoga com ele e pergunta-lhe se está vivendo algum momento importante. O outro responde que sim, que está em um grande torneio de xadrez, pois está jogando com a Morte uma partida que vale a Vida, mas que ela está perdida, pois ele bolou um movimento genial. Eufórico, sem reconhecer com quem falava, descreve com detalhes sua jogada invencível. Pois a Morte emprega o estratagema do parceiro com quem tinha encontro marcado e ganha aquele jogo tétrico, que perdia. Há um diálogo sofrido e ela estende a mão na direção do vencido e, de mãos dadas com vários outros que já aguardavam a grande viagem, caminham todos em contraste contra uma penumbra celeste de grande beleza plástica.
No fim, de repente o sol ilumina todo o vale; e um jovem casal acorda seu filhinho de uns dois anos que dormia e, passada a chuva, seguem suas vidas por uma estrada cheia de frutos...
Era a vitória da Vida contra a Morte.
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